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Análise - Regulação das redes, o coice de Google

Na coluna de hoje, o jornalista Juremir Machado aborda a polêmica do Google frente ao PL das Fake News

Juremir Machado da Silva
#Facebook 2 de mai. de 233 min de leitura
Foto: Reprodução
Juremir Machado da Silva2 de mai. de 233 min de leitura

As plataformas que abrigam publicações na internet são como um veículo de comunicação ou como uma antiga banca de jornal? Em 1996, quando a internet ainda era mistério para a maioria da população mundial, o sociólogo francês Dominique Wolton já dizia: “Precisa regular”. Durante anos Dominique foi espancado pelos adoradores da tecnologia livre, aqueles que apostavam no tudo grátis e tudo livre no ciberespaço, como também era chamado o mundo do virtual na época. Garantia-se que havia sido inventado o almoço grátis. Os mais ousados afirmavam que o direito autoral não fazia mais sentido. Não se podia mais reclamar de pirataria. As coisas mudaram. As plataformas disseminam conteúdos que não produzem e ganham dinheiro com publicidade.

Nesse sentido, nada de novo no front. Quem paga a conta é a velha publicidade. Uma coisa que tem cara de mídia e faturamento de mídia é ou não é mídia? A estultice responde: não, pois não produz conteúdo. A Austrália resolveu botar ordem na casa e fazer pagar pelos conteúdos divulgados. Facebook ameaçou cair fora ou boicotar o jornalismo. Não foi longe. Uma coisa é eu querer que meu conteúdo seja apropriado, pois não tenho bala na agulha e quero pelo menos alguns cliques. Outra coisa é uma empresa que gasta muito para fazer apurações e depois vê seu material passado de mão em mão sem contrapartida financeira, pois até a publicidade vai sendo engolida pelo “transportador” generoso. Como se o cara do frete dissesse que por transportar o jornal sem cobrar pode vendê-lo e ficar com todo o dinheiro. Analogia rasteira? Certamente. Mas útil. Com boa vontade dá para ver a utilidade. Facebook, por exemplo, vem fazendo acordos e pagando onde ainda não foi obrigado a meter a mão no bolso por força de lei. Bom menino? Nada disso. Gostaria, como o Google, de pegar menos e dar sempre as cartas.

Outro ponto que o parlamento brasileiro resolveu encarar é o da responsabilidade de quem serve de suporte para veiculação de notícias falsas e outros produtos nefastos do gênero. Como se fosse uma paleolítica banca de revista, Facebook, sempre ele, diz que só expõe o produto alheio. Se uma banca vender revistas pedófilas não tem nada com o pato? Claro que o difícil é encontrar equilíbrio, responsabilizando cada um pela sua parte num crime sem estimular censura. A Europa construiu legislação de boa cepa. Para chegar lá foi preciso superar o anarquismo poliana dos encantados tecnológicos. Pierre Lévy já ensinava que não existe oposição entre real e virtual. É tudo mundo. O que vale num, ora, pois, vale no outro, para bem e para mal, que tudo se materializa e mesmo o simbólico tem realidade.

As plataformas tentaram eliminar as fronteiras para não obedecer a leis nacionais. A globalização representava para elas o máximo de lucros com o mínimo de comprometimento com legislações e costumes locais. Não rolou. No começo, como sempre, tudo é vendido como sem defeitos nem ressalvas. Uber só teria vantagens. Direitos trabalhistas? Capaz. Era uma escolha do motorista, chamado de parceiro, colaborador e outros eufemismos espertalhões. Aos poucos, o virtual vai caindo definitivamente na real. O Telegram resiste. Vai aprender da pior maneira: pelas suspensões. O bolo precisa ser bem dividido entre os comensais. A cada um conforme a massa que entrega para a festa. As gulosas plataformas queriam comer o bolo sozinhas. Já era.

O último coice do Google, denunciando o PL das Fake News é só o sintoma de uma dor maior, a de não poder mais ser o dono do mundo. A extrema direita está com as Big Techs, pois elas permitiam que mentissem à vontade.

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