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“O Lodo” borra os limites entre onírico e real

O diretor mineiro Helvécio Ratton apresenta em O Lodo (2020) uma história de atmosfera gótica marcada por angustiantes toques kafkianos

Roger Lerina
#Cineart Filmes 19 de abr. de 233 min de leitura
Foto: Bianca Aun/Divulgação
Roger Lerina19 de abr. de 233 min de leitura

O diretor mineiro Helvécio Ratton apresenta em O Lodo (2020) uma história de atmosfera gótica marcada por angustiantes toques kafkianos. Adaptação do conto homônimo do escritor Murilo Rubião (1916 – 1991), o filme acompanha o declínio emocional e mental de Manfredo (Eduardo Moreira), burocrata de uma empresa de seguros que começa a se sentir deprimido e busca a ajuda de um misterioso e persistente psiquiatra que insiste em escavar o passado de seu paciente.

“O que mais me atraiu no conto foi a naturalidade com que Rubião insere o absurdo na vida dos personagens, à maneira de Kafka. No filme, há uma tensão crescente entre a narrativa realista e a sucessão de acontecimentos insólitos na vida do protagonista. Por um lado, tudo está em seu lugar, a vida parece seguir seu curso normal. Mas, por trás dessa normalidade aparente, irrompe o absurdo, com sua própria lógica, e nos desconcerta”, explica o cineasta Helvécio Ratton.

Lauro Escorel/Divulgação

O roteiro foi escrito pelo próprio Ratton e L. G. Bayão e transita entre diversos gêneros, combinando realismo e fantasia. “Sonho e realidade se misturam no filme, as fronteiras entre eles são fluidas, às vezes quase imperceptíveis. O Lodo mistura suspense, humor, horror… Minha ideia é colocar o espectador na mente do protagonista, em seu mundo cada vez mais estranho e claustrofóbico”, justifica o realizador de filmes como A Dança dos Bonecos (1987) e Batismo de Sangue (2006).

O elenco conta com vários atores e atrizes do excelente Grupo Galpão, e a interação entre esses artistas, dada a longa parceria no palco, rende ao filme ótimas interpretações, especialmente de Eduardo Moreira e Inês Peixoto – encarnando a irmã do protagonista, que chega no meio da história acompanhada de um estranho garoto e simplesmente invade o apartamento de Manfredo.

Bianca Aun/Divulgação

Epsila é uma personagem ardilosa, eco do passado de Manfredo, que chega para se aliar ao Dr. Pink (Renato Parara). A fotografia de Lauro Escorel sublinha a atmosfera da trama – que em sua maior parte transcorre em ambientes fechados, ressaltando a asfixia emocional do protagonista.

“Foi um desafio encontrar a linguagem adequada para contar no cinema essa história realista e absurda ao mesmo tempo. Tive ao meu lado uma equipe afinada, com muita gente talentosa e experiente, com quem já fiz outros filmes, e esse entrosamento fez muito bem a O Lodo. E foi um privilégio contar com atores do Grupo Galpão e outros ótimos atores de Minas, o que me permitiu fazer um trabalho intenso antes da filmagem e encontrar o tom certo da interpretação”, diz Ratton.

Para além da segura direção de atores, o grande mérito de O Lodo é o trânsito entre os registros narrativos, que borra na tela os limites entre onírico e real, excepcional e ordinário, delírio e fato.

Bianca Aun/Divulgação
Bianca Aun/Divulgação

O Lodo:   ****

Assista ao trailer de O Lodo:

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Eduardo Moreira
Helvécio Ratton
Murilo Rubião
O Lodo