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Lupicínio, gênio da raça

Juremir Machado fala hoje da sua ida à exposição sobre Lupicínio Rodrigues, no Farol Santander.

Juremir Machado da Silva
#Chico Buarque 26 de abr. de 233 min de leitura
Juremir Machado da Silva26 de abr. de 233 min de leitura

O último domingo foi perfeito. De manhã, com Luís Gomes, com quem mantenho uma amizade colorada há 40 anos, fui ver o Internacional ganhar do Flamengo, apelidado por toda parte de FlaVar, de virada, com dois gols de Maurício, meu jogador preferido no time de Mano Menezes. Foi gostoso demais. De repente, na manhã ensolarada e tranquila, era o meu primeiro jogo no Beira-Rio que voltava, num domingo de 1980, um Gre-Nal, com almofadinha para sentar no cimento e sol a pino. Hoje, as cadeiras do estádio colorado são mais confortáveis que as do auditório Araújo Vianna.

À tarde, com Cláudia, vimos a exposição Lupicínio Rodrigues, no Santander, em cartaz até 23 de julho, com textos de Carlos Gerbase e Marcelo Campos. Muito linda. Precisa levar para todas as cidades gaúchas. Lupi era gremista fervoroso e autor do belo hino do coirmão, que perdeu no sábado para o Cruzeiro, no encontro dos dois clubes que já fizeram o maior clássico da série B. Flautinha de colorado, uai! Não levem a mal, amigos tricolores. Gosto de futebol pelo jogo e pelas brincadeiras sadias. Foi bonito ver o Beira-Rio com muita paz, às onze da manhã, cheio de famílias presentes, muitas crianças e um ambiente de cordialidade e muita luta esportiva no gramado.

Fã de Lupi, como todo mundo que gosta de boa poesia, se voltasse a escrever uma biografia ou um livro-reportagem, como fiz com Getúlio, Jango e Brizola, seria a dele: Lupi, gênio da raça. Sonho com a capa desse livro. Ouço então Esses moços, a mais bela letra da música popular brasileira. Dá uma tristeza suave, uma alegria melancólica, uma saudade do que se foi e do que não se foi. Lupi é uma lenda. No sábado, na Rádio Gre-Nal, no programa do velho amigo Flávio Dalpizzol, Kenny Braga contava dos seus encontros com Lupi num cabaré do centro da cidade. Uso cabaré no sentido francês da palavra, se me faço entender, claro.

Eu me emocionei silenciosamente na Grenal. Era minha primeira ida a estúdio de rádio desde que apresentei há quase três anos o último Esfera Pública, na Rádio Guaíba, onde, sabendo que seria demitido por não querer ser bolsonarista, rodei no fechamento Apesar de você, do agora “camomiano” Chico Buarque. O cantor, compositor e escritor recebeu das mãos de Lula o Prêmio Camões de Literatura, que o iletrado capitão de malícias Jair Bolsonaro não quis entregar. Certamente perguntaria a algum assessor militar quem foi Camões. Foi assim o meu final de semana. A gente sai de uma rádio sabendo que o rádio nunca sairá de nós.

Passear pela trajetória de Lupi, da Ilhota, bairro negro da capital gaúcha atropelado pela gentrificação, às gravações por estrelas como Caetano Veloso e Elza Soares faz pensar nos mistérios do talento. Lupi era um homem aparentemente simples. Trazia no peito e no cérebro, no entanto, a arte. Uma simplicidade sofisticada. Na exposição do Lupicínio tem até a maravilhosa Glau Barros cantando nosso maior compositor. Imperdível. O Santander é muito moderno. Não tem bilheteria. Mas uma máquina para vender os ingressos. Bilheteria é como táxi: velharia. Só a modernidade garante o sucesso. Fabrício Carpinejar e Fernando Schuler tornaram-se modernos até a alma para dar certo. Esses moços, pobres moços. E esses velhos, como eu, preferem a antiguidade por ser convivial.

Modernidade é dizer curador de um evento.

Antiguidade é falar organizador ou coordenador.

Gol do Inter.

Bravo, Lupi!

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Lupícinio Rodrigues