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#A Greve De 1906

Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 14: A Greve de 1906 e a Hidráulica do Moinhos de Vento

O historiador Frederico Bartz escreve sobre um importante marco para a capital gaúcha

Frederico Bartz, na revista Parêntese
#A Greve De 1906 26 de abr. de 233 min de leitura
Frederico Bartz, na revista Parêntese26 de abr. de 233 min de leitura

A Greve Geral de 1906, também conhecida como Greve dos 21 Dias, foi o primeiro movimento grevista generalizado de Porto Alegre. Depois de alguns anos marcados pela dificuldade de mobilização, havia uma retomada gradual das atividades sindicais por parte dos militantes social-democratas e anarquistas, assim como era registrado um aumento crescente dos conflitos nos locais de trabalho. Em agosto de 1906, os marmoristas que trabalhavam na oficina de Aloys Friedrichs (que era um dos maiores estabelecimentos da capital), entregaram um memorando para o seu patrão com o intuito de pedir o estabelecimento das oito horas de trabalho. A resposta negativa de Friedrichs deu início a um movimento grevista da categoria e à fundação do Sindicato dos Marmoristas e Classes Anexas. 

Nas semanas seguintes outras categorias profissionais como pedreiros, chapeleiros, tecelões, alfaiates e metalúrgicos seguiram o mesmo caminho dos marmoristas na busca pelas oito horas de trabalho. Durante o mês de setembro, lideranças socialistas como Francisco Xavier da Costa, Carlos Cavaco, Wilhelm Koch e Josef Zeller-Rethaller organizaram grandes comícios na praça da Alfândega para mobilizar os trabalhadores e as trabalhadoras em um movimento que se tornava cada vez maior; ao mesmo tempo, militantes anarquistas, como Polidoro Santos e Stefan Michalski, procuravam orientar os operários a partir de uma perspectiva libertária, criticando o papel diretivo dos social-democratas. No começo do mês de outubro, a greve generalizada se tornou greve geral, e um dos momentos mais significativos desse processo foi a tomada das obras da caixa d’água e do reservatório da Intendência Municipal.

No começo do século XX, a Intendência Municipal de Porto Alegre tinha um plano para assumir os serviços de abastecimento de água na capital, que estava sob controle da iniciativa privada. Em 1904, o poder público encampou a Companhia Hidráulica Guahybense, investindo em obras de ampliação do seu reservatório na Estrada dos Moinhos de Vento. Esse local se tornaria estratégico para o movimento grevista de 1906:  no dia 5 de outubro, um grupo de mil grevistas se dirigiu para o morro de São Pedro e ocupou as obras do reservatório, fazendo com que os trabalhadores abandonassem seu serviço. Durante a tarde foi hasteada uma grande bandeira vermelha no local, o que deve ter provocado um grande impacto nos apoiadores do movimento. Por conta da elevação em relação ao seu entorno imediato, o estandarte rubro poderia ser visto dos arrabaldes industriais da Floresta, dos Navegantes e do São João, sinalizando uma tomada simbólica da cidade pela classe operária.

Coincidência ou não, a partir do começo de outubro o movimento ganhou força e os grevistas paralisaram Porto Alegre. Durante esse mês se travou uma dura disputa entre os operários grevistas, reunidos na recém-fundada Federação Operária do Rio Grande do Sul, e os patrões, reunidos na Sociedade dos Industrialistas. A Greve Geral terminou com o estabelecimento de uma jornada de nove horas para o operariado e com um saldo positivo em sua organização, pois diversos sindicatos foram fundados e se constituiu uma Federação para articular suas ações. Quanto à Hidráulica do Moinhos de Vento, ela permanece como testemunha de um momento da história em que as esperanças proletárias tremularam sobre toda a cidade.    


Frederico Bartz é mestre e doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalha como técnico em assuntos educacionais nessa mesma universidade, onde coordena o curso de extensão Caminhos Operários em Porto Alegre.

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Frederico Bartz
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