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#Anita Rocha Da Silveira

Gangue de mulheres mascaradas vigia a moral em “Medusa”

Resenha do filme "Medusa", dirigido por Anita Rocha da Silveira e protagonizado pela atriz Mari Oliveira

Roger Lerina
#Anita Rocha Da Silveira 21 de mar. de 234 min de leitura
Vitrine Filmes/Divulgação
Roger Lerina21 de mar. de 234 min de leitura

Destaque na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e no Festival Internacional de Cinema de TorontoMedusa (2021), chega aos cinemas nesta quinta-feira (16/3). O terror dirigido por Anita Rocha da Silveira é protagonizado pela atriz Mari Oliveira, que lidera uma gangue de mulheres mascaradas que caça e pune aquelas que se desviam do que consideram o “caminho correto”.

Na trama de Medusa, Mariana (Mari) é uma bela jovem que, ao lado de suas amigas, se esforça para não cair em tentação, formando um grupo chamado de Preciosas do Altar. Em uma tentativa de se manterem fiéis aos princípios da igreja, elas vigiam e controlam suas próprias vidas e corpos, como também das mulheres que as cercam.

À noite, elas saem às ruas para fazer justiça contra outras mulheres que não se comportam de acordo com seus preceitos. Dentro do grupo, porém, a inconformidade vai crescendo cada vez mais.

Vitrine Filmes/Divulgação

O longa recebeu prêmios em prestigiados festivais internacionais como o de Melhor Direção no Festival de Cinema de Sitges, na Espanha, e o Prêmio Especial do Júri no IndieLisboa, em Portugal – além de levar os troféus de melhor filme, direção e atriz coadjuvante para Lara Tremouroux na mostra Première Brasil do Festival do Rio.

A diretora Anita, que também assina o roteiro, explica que o filme partiu de sua própria observação da sociedade brasileira dos últimos anos, que voltou a defender um modelo de mulher “bela, recatada e do lar”. Além disso, uma série de notícias de jornais de 2015 sobre ataques contra jovens consideradas “promíscuas” por agressoras também mulheres chamou a atenção da cineasta.

“Às vezes, o cabelo era cortado e cortes feitos na face, pois era essencial deixar essa mulher ‘feia’. Os motivos declarados para tamanha violência variavam entre a vítima ser considerada ‘bonita demais’, ter ‘dado em cima’ do namorado de uma das agressoras, ‘se exibir’ com roupas provocativas, ter likes de muitos rapazes em fotos no Instagram e ser tida como ‘fácil’ e ‘piranha’. Tudo isso em um mundo onde as redes sociais se tornaram a principal ferramenta de vigilância”, afirma a realizadora.

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Essas notícias levaram Anita a recordar imediatamente do mito de Medusa: “Na versão mais conhecida do mito, Medusa era uma das mais lindas donzelas existentes, sacerdotisa do templo de Atena. Mas um dia ela cedeu às investidas de Poseidon, enfurecendo Atena, a deusa virgem, que transformou seu belo cabelo em serpentes e deixou seu rosto tão horrível que uma mera visão transformaria os que a olhassem em pedra. Medusa foi punida por sua sexualidade, por desejar, por não ser ‘pura’. Da junção entre mito e realidade me ocorreu que, mesmo com o passar dos séculos, faz parte da construção da nossa civilização as mulheres quererem controlar umas às outras. E que talvez essa seja uma forma de mantermos o controle de nós mesmas. Afinal, crescemos com medo de ceder aos nossos impulsos, e até de sermos consideradas ‘histéricas’. O controle também passa pela aparência, pela beleza, pois está impregnada em nós a ideia de que este é o nosso principal atributo. Fazemos dietas para chegar ao peso ‘padrão’ e passamos por procedimentos estéticos dolorosos na esperança de sermos jovens para sempre”.

Anita já havia trabalhado com a Mari Oliveira em seu primeiro longa, Mate-me por Favor (2015), e escreveu a personagem especialmente para a atriz. Para a construção do elenco, foram testados mais de 200 jovens, entre atores e atrizes. Medusa começou a ser pensado em 2015 e foi filmado antes da pandemia, em novembro de 2019 – mas reflete muito sobre o Brasil dos últimos anos.

“O Brasil é um país cuja história é marcada pelo fanatismo religioso. Com a chegada dos portugueses e em sequência dos jesuítas, um genocídio foi feito em nome de um deus cristão. Quando comecei a desenvolver o filme em 2015, algo que percebi é que meu interesse principal era falar do avanço do fascismo, da extrema-direita e do conservadorismo, que no Brasil, devido a nossa história, está ligado à religião”, explica Anita.

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Medusa:   ****

Assista ao trailer de Medusa:

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