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Em livro de estreia, Yannikson celebra protagonismo negro na literatura infantojuvenil

Entrevista com o escritor Yannikson, que acaba de lançar "A Terra das Coroas", primeiro título da série literária Narrativas Sensíveis e Outras Histórias, publicada pela EdiPUCRS

Ricardo Romanoff, do site Roger Lerina
# Yannikson2 de mai. de 234 min de leitura
Foto: Bruna Lopes
Ricardo Romanoff, do site Roger Lerina2 de mai. de 234 min de leitura

O escritor Yannikson acaba de lançar seu livro de estreia, A Terra das Coroas, primeira publicação da série Narrativas Sensíveis e Outras Histórias (EdiPUCRS). A obra é fruto do trabalho de conclusão do autor na graduação em Escrita Criativa da PUCRS, que abordou estereótipos ligados a personagens negros na literatura infantil brasileira.

“Desenvolvi esse livro pensando na importância de trabalhar exemplos positivos, autênticos e repletos de afetos entre as crianças negras. Inspirado na relação com meus irmãos e irmãs, me debrucei na escrita dessa história buscando levar um afago também para o Yannikson menino, que cresceu carente de narrativas que lhe incentivassem a se ver como alguém potente, bonito e protagonista de sua própria vida”, afirma o escritor.

Na trama, repleta de elementos fantásticos, Tena é uma menina que se aventura pela Terra das Coroas em busca da irmã, acompanhada dos amigos Cinépio, Mabel e Yuni. “Eles vivem a transição de crianças que começam a descobrir os desconfortos da vida. Cada um tem um lugar de protagonismo por conta da amizade que se forma”, conta Yannikson, 28 anos, que além de escritor é ator de teatro e produtor cultural em Charqueadas.

Ao ingressar na primeira turma de graduação em Escrita Criativa da PUCRS – e do país – em 2016, como bolsista do ProUni, Yannikson refletiu sobre suas referências de leitura na infância. “Percebi grandes lacunas. Fui muito impactado por personagens brancos ao longo do meu crescimento, então quis trabalhar com personagens crianças que fossem múltiplas”, destaca o autor, em oposição a estereótipos observados em sua pesquisa, como o amigo negro do protagonista branco ou o personagem negro marginalizado.

“Precisamos reinventar imaginários para que, quando eu fale de um menino negro em um livro, o leitor não imagine um negro no semáforo, e sim uma criança negra brincando dentro de casa.” A atenção às representações e à representatividade também passa pelas ilustrações, assinadas por Bárbara Luiza Farias. “Queria muito que o livro fosse ilustrado por uma mulher negra para que a obra se completasse nesse lugar de múltiplos conhecimentos identitários.”

Nascido em Santa Maria, Yannikson recorda que, desde pequeno, narrava histórias em caderninhos. “Na adolescência, fui encontrando na escrita um lugar de autoconhecimento e fuga da realidade. E era muito noveleiro.” O interesse pelas experiências da infância também diz respeito à sua trajetória familiar. “Cresci cuidando de outras crianças, com responsabilidades junto aos meus irmãos. Isso também direcionou o meu olhar”, reflete o autor, apontando que é fundamental não subestimar o público ao escrever obras infantojuvenis.

Curadora e editora da série Narrativas Sensíveis e Outras Histórias – que publicará obras de ficção e textos teóricos sobre literatura infantil e juvenil –, Janaína de Azevedo Baladão ressalta que “a infância e a adolescência marcam uma época intensa, muitas vezes repleta de enigmas, imprecisões e contradições, que transpassam um sem-fim de combinações de possibilidades de descoberta”.

“As publicações refletem a pesquisa e a reflexão geradoras de narrativas sensíveis e questionadoras sobre as relações familiares, a representatividade, os afetos, o envelhecimento, a doença, a vida e a morte”, completa a curadora da série, professora dos cursos de Escrita Criativa e Letras da PUCRS e orientadora do trabalho de conclusão de Yannikson.

Enquanto desfruta as primeiras semanas de lançamento da obra, com eventos realizados na PUCRS e na Biblioteca Pública Municipal Profª Vera Maria Gauss, em Charqueadas, o ator e escritor Yannikson não descarta uma possível adaptação de A Terra das Coroas para o teatro ou uma produção audiovisual – a ênfase nos diálogos é uma característica que já aproxima o livro dos palcos e das telas. No entanto, o foco inicial é outro. “Antes de tudo isso, o mais importante para mim é que esse livro chegue às crianças pretas e reverbere para que elas vejam que são bonitas, fantásticas e poderosas.”

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