#Casa Da Memória Unimed
Eco e o Fronteiras do Pensamento
Juremir fala da nova edição do Fronteiras do Pensamento e relembra histórias do evento que hoje já faz parte do imaginário brasileiro.
Juremir Machado da SilvaO ciclo de Conferências Fronteiras do Pensamento está firme e forte. Na última segunda-feira, na Casa da Memória Unimed-RS, foi feito o lançamento da edição 2023, que terá seis convidados de marca. Lembro ainda de uma reunião no Clube Inglês, organizada pelo inesquecível Luís Fernando Cirne Lima, que foi a origem do Fronteiras do Pensamento. Fernando Schuler sempre esteve na linha de frente da execução do projeto. Participei muito nos primeiros anos, intermediando a vinda de intelectuais como Edgar Morin, Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky, Luc Ferry e outros. Depois, a vida me levou para outros rumos. Guardo a lembrança e o contato carinhoso com Schuler e Pedro Longhi, as figuras de proa do Fronteiras, agora sob o guarda-chuva poderoso da DC7, de Dodi e Cicão. No lançamento da nova etapa, Nilson May, presidente da Federação Unimed-RS, destacou o valor das ideias e de receber esses pensadores seminais e de referência.
A apresentação contou com a presença do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que fez menção a uma parceria da Unimed com a administração municipal para “cuidar do Parcão”. Já o vice-governador Gabriel Sousa mostrou-se fã do Fronteiras do Pensamento e conhecedor das obras de alguns dos principais convidados do evento ao longo do tempo. Em tom suave, cada um falou dessa capacidade porto-alegrense de produzir coisas que se consolidam e ganham lugar no imaginário brasileiro.
O Fronteiras do Pensamento, agora numa modalidade mais enxuta, vai saltar das suas praças tradicionais – Porto Alegre, São Paulo e Salvador – para outros lugares, a começar por Fortaleza. Entre 31 de maio e 4 de outubro acontecerão seis encontros presenciais e três virtuais com o tema “O caos e a ordem”. Convidados: Nadia Murad, prêmio Nobel da Paz, a escritora espanhola Rosa Monteiro, o cientista político americano Michael Sandel, o neurocientista David Eagleman, o documentarista Douglas Rushkoff e o antropólogo britânico David Wengrow. Como sempre, a ideia é sacudir as caixinhas do pensamento e botar todo mundo para refletir. Fernando Schuler, na sua fala, lembrou de quando me enviou a Milão para tentar convencer Umberto Eco a aceitar convite para vir ao Fronteiras. Eu estava em Paris. Convidei Clóvis de Barros Filho para ir comigo. Ele topou.
Eco nos recebeu em casa. Mostrou-nos parte da sua incrível biblioteca, bateu papo, tomou cerveja long neck com a gente no bico da garrafa, nos arrastou para um coquetel numa livraria e recusou o convite. Não queria ter de enfrentar uma tropa de jornalistas atrás dele no Brasil. Estava no auge do sucesso do O Cemitério de Praga, dinheiro era o que não lhe faltava. Só estava de saco cheio do assédio da mídia. Numa das nossas trocas de e-mail, Eco resumiu: “Caro Machado da Silva. Eu adoro o Brasil e gostaria de voltar, mas, em três meses estarei com 77 anos, estou começando a não suportar viagens muito longas, sou empurrado de um lado para outro, estou tendo mais trabalho agora que me aposentei, estaria disposto a pagar 80 mil euros para evitar novas viagens, mas ainda tenho de respeitar compromissos que imprudentemente assumi há três anos. Tenho outros amigos brasileiros que sempre me convidam, talvez daqui a um ou dois anos eu encontre tempo e forças para ir. Quanto à sua vinda em outubro, ficaria feliz em vê-lo em Milão ou em Bolonha. Avise-me quando chegar e lembre-se que de 4 a 11 estarei nos Estados Unidos e por volta de 16 a 17 estarei em Paris”. Muitas foram nossas trocas de e-mail.
Eco não veio. Clóvis e eu somos dois panacas: não tiramos uma foto daquele encontro. No longínquo ano de 2008 celulares eram só telefones.