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Eco e o Fronteiras do Pensamento

Juremir fala da nova edição do Fronteiras do Pensamento e relembra histórias do evento que hoje já faz parte do imaginário brasileiro.

Juremir Machado da Silva
#Casa Da Memória Unimed 12 de abr. de 234 min de leitura
Nilson May saúda o novo Fronteiras do Pensamento na Casa da Memória Unimed | Foto: Divulgação
Juremir Machado da Silva12 de abr. de 234 min de leitura

O ciclo de Conferências Fronteiras do Pensamento está firme e forte. Na última segunda-feira, na Casa da Memória Unimed-RS, foi feito o lançamento da edição 2023, que terá seis convidados de marca. Lembro ainda de uma reunião no Clube Inglês, organizada pelo inesquecível Luís Fernando Cirne Lima, que foi a origem do Fronteiras do Pensamento. Fernando Schuler sempre esteve na linha de frente da execução do projeto. Participei muito nos primeiros anos, intermediando a vinda de intelectuais como Edgar Morin, Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky, Luc Ferry e outros. Depois, a vida me levou para outros rumos. Guardo a lembrança e o contato carinhoso com Schuler e Pedro Longhi, as figuras de proa do Fronteiras, agora sob o guarda-chuva poderoso da DC7, de Dodi e Cicão. No lançamento da nova etapa, Nilson May, presidente da Federação Unimed-RS, destacou o valor das ideias e de receber esses pensadores seminais e de referência.

A apresentação contou com a presença do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que fez menção a uma parceria da Unimed com a administração municipal para “cuidar do Parcão”. Já o vice-governador Gabriel Sousa mostrou-se fã do Fronteiras do Pensamento e conhecedor das obras de alguns dos principais convidados do evento ao longo do tempo. Em tom suave, cada um falou dessa capacidade porto-alegrense de produzir coisas que se consolidam e ganham lugar no imaginário brasileiro.

Juremir (à esq.) junto com Nilson May, Sebastião Melo, Fernando Schuler e Dr. Mirenda

O Fronteiras do Pensamento, agora numa modalidade mais enxuta, vai saltar das suas praças tradicionais – Porto Alegre, São Paulo e Salvador – para outros lugares, a começar por Fortaleza. Entre 31 de maio e 4 de outubro acontecerão seis encontros presenciais e três virtuais com o tema “O caos e a ordem”. Convidados: Nadia Murad, prêmio Nobel da Paz, a escritora espanhola Rosa Monteiro, o cientista político americano Michael Sandel, o neurocientista David Eagleman, o documentarista Douglas Rushkoff e o antropólogo britânico David Wengrow. Como sempre, a ideia é sacudir as caixinhas do pensamento e botar todo mundo para refletir. Fernando Schuler, na sua fala, lembrou de quando me enviou a Milão para tentar convencer Umberto Eco a aceitar convite para vir ao Fronteiras. Eu estava em Paris. Convidei Clóvis de Barros Filho para ir comigo. Ele topou.

Fernando Schuler apresenta os convidados de 2023

Eco nos recebeu em casa. Mostrou-nos parte da sua incrível biblioteca, bateu papo, tomou cerveja long neck com a gente no bico da garrafa, nos arrastou para um coquetel numa livraria e recusou o convite. Não queria ter de enfrentar uma tropa de jornalistas atrás dele no Brasil. Estava no auge do sucesso do O Cemitério de Praga, dinheiro era o que não lhe faltava. Só estava de saco cheio do assédio da mídia. Numa das nossas trocas de e-mail, Eco resumiu: “Caro Machado da Silva. Eu adoro o Brasil e gostaria de voltar, mas, em três meses estarei com 77 anos, estou começando a não suportar viagens muito longas, sou empurrado de um lado para outro, estou tendo mais trabalho agora que me aposentei, estaria disposto a pagar 80 mil euros para evitar novas viagens, mas ainda tenho de respeitar compromissos que imprudentemente assumi há três anos. Tenho outros amigos brasileiros que sempre me convidam, talvez daqui a um ou dois anos eu encontre tempo e forças para ir. Quanto à sua vinda em outubro, ficaria feliz em vê-lo em Milão ou em Bolonha. Avise-me quando chegar e lembre-se que de 4 a 11 estarei nos Estados Unidos e por volta de 16 a 17 estarei em Paris”. Muitas foram nossas trocas de e-mail.

Eco não veio. Clóvis e eu somos dois panacas: não tiramos uma foto daquele encontro. No longínquo ano de 2008 celulares eram só telefones.

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Umberto Eco